A Itaú Asset Management, maior gestora de fundos de crédito privado do Brasil, aposta em produtos securitizados como forma de ajudar os investidores a diversificar e lidar com o ambiente econômico do país, incluindo o aumento das taxas de juros.
Com R$ 460 bilhões (US$ 81,2 bilhões) em crédito privado líquido sob gestão, a Itaú Asset está lançando um fundo que compra pacotes de crédito, conhecidos no Brasil como FIDCs. O novo produto da empresa é o primeiro com vantagens fiscais voltado para investidores qualificados, pessoas físicas com mais de 1 milhão de reais investidos.
“Quando a estrutura é bem construída, os FIDCs oferecem boa proteção aos investidores com uma relação atrativa entre risco e retorno”, disse Fayga Delbem, chefe de crédito privado da gestora, em entrevista. “Achamos que esse produto veio para ficar, então estamos lançando este FIDC com um portfólio diversificado neste mês e planejando ter outros em breve.”
Os FIDCs são fundos que existem apenas no Brasil e investem em crédito com cotas vendidas aos investidores em tranches que podem ser separadas por risco, semelhante ao mercado de securitização dos EUA. Eles foram estrelas em ascensão no ano passado, pois os investidores buscavam a segurança de investimentos em renda fixa com garantias.
Os fundos ganharam um impulso com uma mudança regulatória em 2023 que permitiu que fossem vendidos a investidores de varejo, e tiveram entradas líquidas de R$ 120,9 bilhões em 2024, segundo a Anbima, associação do mercado de capitais do Brasil. No mês até 7 de março, esses fundos levantaram R$ 2,8 bilhões, após um total de R$ 11,4 bilhões de saídas em janeiro e fevereiro.
Os investidores veem boas perspectivas para o produto em meio à incerteza causada por tarifas globais e mercados voláteis.
“O ano passado foi o ano do crédito privado no Brasil, e depois de um excesso de otimismo tivemos uma correção técnica em dezembro”, disse ela. “E agora temos uma situação com algumas oportunidades, considerando muitas empresas com diferentes perfis de crédito que pagam spreads atrativos.”
O fundo que o Itaú está lançando é o primeiro para investidores qualificados que terá um imposto de 15% pago apenas quando o dinheiro for sacado. Normalmente, FIDCs e outros fundos de crédito antecipam os pagamentos de impostos duas vezes ao ano, em maio e novembro. Os fundos de longo prazo pagam impostos de renda de 15% e os de curto prazo pagam 20%.
Crédito vendido sem garantia por empresas altamente alavancadas tem sido motivo de preocupação porque as altas taxas do país dificultam o pagamento de suas dívidas em dia, de acordo com Ricardo Espindola, gerente de portfólio de crédito da Porto Asset, o braço de gestão de ativos da seguradora Porto Seguro. É por isso que os spreads estão diminuindo para empresas de maior qualidade, pois os investidores buscam menos risco, disse Espindola, cuja empresa tem R$ 35 bilhões em ativos sob gestão.
Os FIDCs, por outro lado, são estruturados para navegar em tempos turbulentos, disse ele. Eles oferecem menos volatilidade e retornos mais altos, mas também têm menos liquidez, disse Espindola, acrescentando que está investindo mais dinheiro dos fundos da Porto Asset em tranches seniores de FIDC, levando em consideração os requisitos de liquidez de cada fundo.
“A securitização é uma forma de aumentar a resiliência do seu portfólio de crédito, uma vez que as taxas de juros cobradas de pessoas físicas e empresas menores já são tão altas que elas são menos afetadas por um aumento na taxa básica de juros”, disse Alexandre Coutinho, gestor sênior de portfólio e chefe de crédito Brasil do Pátria Investments Ltd., uma das maiores gestoras de ativos alternativos da América Latina.
O Pátria está lançando um fundo de pensão que investirá em FIDCs e títulos de empresas menores com alavancagem muito baixa. Também está planejando oferecer um novo FIDC em breve. A empresa tem cerca de R$ 3 bilhões em fundos locais estruturados de crédito privado.
Com 25 funcionários, o dobro do número em 2021, a equipe de crédito da Itaú Asset tem suas próprias pontuações de crédito para empresas e não depende de agências de classificação externas. Ela também tem três traders em sua mesa de crédito de títulos locais. A gestora de ativos teve R$ 130 bilhões em entradas líquidas para fundos de crédito privado no ano passado, que foram investidos em dívidas de classificação e rendimentos altos e também em títulos de infraestrutura isentos de impostos.
De acordo com Delbem, o mercado secundário de crédito privado no Brasil costumava negociar cerca de R$ 5 bilhões por mês há cerca de cinco anos, e agora o número subiu para R$ 40 bilhões.
No ano passado, a Itaú Asset comprou R$ 160 bilhões em crédito privado — cerca de R$ 130 bilhões foram comprados diretamente de empresas. Em 80% dessas transações de mercado primário, a Itaú Asset foi a única investidora em uma colocação privada ou atuou como investidora-âncora.
“O mercado de crédito privado se desenvolveu muito no Brasil nos últimos anos”, disse Delbem. “Agora é uma parte estrutural do portfólio de qualquer investidor.”

Fonte: G1