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<p>Condições climáticas e mudanças no uso da terra que privilegiaram culturas de exportação nos últimos anos causaram redução no ritmo de crescimento da produção de alimentos no país e explicam o aumento no preço da comida. A constatação faz parte da <a href="https://portalibre.fgv.br/sites/default/files/2025-03/03ce2025cartadoibre.pdf">Carta do Ibre</a>, análise de conjuntura econômica publicada mensalmente pelo Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV).<img src="https://agenciabrasil.ebc.com.br/ebc.png?id=1634518&;o=node" style="width:1px; height:1px; display:inline;"/><img src="https://agenciabrasil.ebc.com.br/ebc.gif?id=1634518&;o=node" style="width:1px; height:1px; display:inline;"/></p>
<p>O texto, assinado pelo economista Luiz Guilherme Schymura, traz a colaboração de outros pesquisadores do Ibre e aponta motivos que explicam a <strong>inflação de alimentos subir em velocidade maior que a inflação oficial do país</strong>, apurada pelo <a href="https://agenciabrasil.ebc.com.br/Pressionada-pela-energia-el%C3%A9trica-infla%C3%A7%C3%A3o-de-fevereiro-fica-em-1%2C31%25#">Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA)</a>, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).</p>
<p>A análise aponta que a alta no preço da comida é reflexo do fato de a produção no campo não acompanhar a demanda da população.</p>
<p>O IPCA de fevereiro mostrou que a inflação do grupo alimentos e bebidas subiu 7,25% no acumulado de 12 meses, acima do índice geral, que apresentou alta de 4,56%. A Carta do Ibre observa esse descolamento entre inflação da comida e inflação geral durante um tempo mais longo.</p>
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<p>“Entre 2012 e 2024, o item alimentação no domicílio teve alta de 162%, enquanto o IPCA geral elevou-se 109%”, afirma o documento.</p>
</blockquote>
<h2>Clima e dólar</h2>
<p>O Ibre ressalta que “a alta dos alimentos – que tem peso maior na cesta de consumo dos mais pobres – no Brasil e no mundo é um processo que já tem quase duas décadas, com muitos e complexos fatores explicativos”.</p>
<p>Schymura destaca como responsáveis pelo descasamento entre a inflação dos alimentos e o índice geral as mudanças climáticas, com aumento de eventos extremos e maior imprevisibilidade meteorológica, que “provocam perturbações crescentes na oferta de commodities [mercadorias negociadas com preços internacionais] e produtos alimentícios, num processo que afeta diversas partes do globo e, de forma bastante nítida e relevante, o Brasil”.</p>
<p>A análise frisa que efeitos negativos das mudanças climáticas começaram a emergir claramente a partir de meados dos anos 2000, com efeitos ainda mais negativos em partes mais quentes do globo, como no Brasil.</p>
<p>O documento assinala também que a “expressiva desvalorização cambial” possui parcela de culpa no encarecimento dos alimentos, uma vez que estimula a exportação.</p>
<p><strong>Com o real desvalorizado, vender para outros países e obter receita em dólar torna mais lucrativa a atividade do produtor.</strong></p>
<p>Mais um impacto do fator câmbio alto é o encarecimento de insumos agrícolas importados, como defensivos, fertilizantes, máquinas e equipamentos.</p>
<p>Outro elemento apontado são políticas internas de incentivo ao consumo, como “forte aumento real do salário mínimo e a ampliação expressiva do Bolsa Família”. Com mais renda, a população tende a aumentar o consumo, pressionando a relação produção x demanda.</p>
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<p><!--copyright=390027-->Destruição causada por enchentes na cidade de Muçum, no Rio Grande do Sul. <strong>Bruno Peres/Agência Brasil</strong><!--END copyright=390027--></p>
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<h2>Produção agrícola</h2>
<p>A publicação da FGV traz dados que apontam perda de velocidade na oferta de alimentos. “O crescimento da produção agrícola mundial, que teve ritmo médio de cerca de 2,6% ao ano nas décadas de 1990 e 2000, desacelerou para 1,9% nos anos 2010”.</p>
<p>O Ibre detalha cenários específicos do Brasil. <strong>“O Brasil não está produzindo comida suficiente para o próprio país e o mundo”. Um dos motivos para isso é troca de culturas – alimentos dando lugar a soja e milho.</strong></p>
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<p>“A produção das lavouras está crescendo menos do que o necessário para atender à demanda interna e externa de alimentos voltados especialmente para consumo humano; uma parte da área plantada aparentemente está saindo dos alimentos e indo para esses produtos mais voltados à exportação”.</p>
</blockquote>
<p>O Ibre detalha aumentos específicos no preço da alimentação no domicílio de 2012 a 2024, como frutas (subiram 299%), hortaliças e verduras (246%), cereais, legumes e oleaginosas (217%), e tubérculos, raízes e legumes (188%), enquanto o índice geral de inflação foi 109%.</p>
<h2>Área plantada</h2>
<p>O estudo mostra que a área total plantada no Brasil aumentou de 65,4 milhões de hectares em 2010 para 96,3 milhões em 2023. Mas essa expansão se deve basicamente à soja e ao milho. Sem essas duas culturas, voltadas à exportação, a área plantada ficou estável, registrando 29,1 milhões de hectares em 2010, e 29,3 milhões em 2023.</p>
<p><strong>Segundo o Ibre, a produção de feijão por habitante no Brasil caiu 20%; e do arroz, 22%, quando se compara 2024 com 2012.</strong></p>
<p>“A área plantada de arroz no Brasil passou de 2,8 milhões de hectares em 2010 para 1,6 milhão em 2024, o que reforça a ideia de que culturas de alimentos estão dando lugar a culturas de exportação, especialmente de soja e milho”, escreve Schymura</p>
<p>O pesquisador frisa que a produção por habitante de quase todas as principais frutas caiu no Brasil a partir do início da década passada. No caso da banana, essa queda foi de 10%; no da maçã, de 5,6%; no da laranja, de 20% (afetada pelo greening, um tipo de praga); no do mamão, de 40%; e no da tangerina, de 8%. A exceção foi a uva, com aumento de 9%.</p>
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<p>Grãos à venda em mercado de Brasília. <strong>Joédson Alves/Agência Brasil</strong><!--END copyright=410839--></p>
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<h2>Hortaliças e verduras</h2>
<p>Em relação a hortaliças e verduras, segundo item de alimentação no domicílio que mais cresceu acima do IPCA em 2012-2024, o economista lembra que são culturas mais vulneráveis a climas adversos.</p>
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<p>“Outra hipótese, que não exclui a primeira, é o aumento Título 2da demanda em função de mudança de hábitos, como a busca de alimentação mais saudável. Por fim, o crescimento das áreas urbanas, em detrimento dos ‘cinturões verdes’, e o encarecimento da mão de obra também podem ser fatores que restringem a produção de hortifrutigranjeiros”, sugere.</p>
</blockquote>
<h2>Carne</h2>
<p>A análise aponta também fatores que tornam a carne mais cara, como o “clico do boi”, que provoca redução da oferta a cada cinco anos, aproximadamente.</p>
<p>A demanda de outros países pela carne brasileira apresenta também um fator de encarecimento. Houve, diz o Ibre, grande aumento da exportação do produto desde 2017, enquanto a produção nacional se manteve relativamente estável.</p>
<p>Segundo a publicação,<strong> em 2017, a disponibilidade de carne bovina para consumo doméstico foi de 39,9 kg/habitante, indicador que caiu para 36,1 em 2023</strong> – patamar mais baixo desde pelo menos 2013.</p>
<p>Além disso, observa a análise, a produção de carne também vem sendo afetada pelas mudanças climáticas, com destaque, em 2021, para o dano às pastagens causado pela forte seca.</p>
<h2>Recomendações</h2>
<p>A Carta do Ibre conclui que “a alta dos alimentos não é um fenômeno passageiro” e recomenda as seguintes políticas de suprimento e segurança alimentar:</p>
<ul>
<li><strong>Foco nas culturas que produzem diretamente alimentos para a mesa dos brasileiros.</strong></li>
<li><strong> Monitoramento da produção</strong></li>
<li><strong> Recomposição de estoques públicos</strong></li>
<li><strong> Silagem (estruturas de armazenamento)</strong></li>
<li><strong> Vias de escoamento</strong></li>
<li><strong> Crédito focalizado</strong></li>
</ul>
<h2>Cultura de exportação</h2>
<p>Em relação às culturas de exportação, Schymura comenta que “não se trata de restringir”. Ele afirma que a soja, por exemplo, traz muitos benefícios ao país, na forma de entrada de moeda estrangeira e da “consequente estabilização macroeconômica propiciada por elas”. Ele assinala ainda que essas culturas permitem o barateamento das rações, que são insumo nas cadeias de proteínas animais.</p>
<blockquote>
<p>“O foco deve ser o de estimular a produção adicional de alimentos, e não dificultar outras áreas do agronegócio. Não se trata de um jogo de soma zero”, conclui.</p>
</blockquote>
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<p><!--copyright=281091-->Nota de 100 dólares americanos. <strong>Valter Campanato/Agência Brasil</strong><!--END copyright=281091--></p>
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<h2>Derrubada de impostos</h2>
<p>O preço dos alimentos é uma das principais preocupações atuais do governo. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a dizer que <a href="https://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2025-03/lula-cogita-tomar-medidas-drasticas-conter-alta-dos-alimentos">cogita “medidas drásticas”</a> para conter a pressão de alta.</p>
<p>Na quinta-feira da semana passada (6), o <a href="https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2025-03/governo-zera-tarifa-de-importacao-de-9-alimentos-para-reduzir-precos">governo decidiu zerar o Imposto de Importação de nove tipos de alimentos</a>, na tentativa de baratear preços.</p>
<p>O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, diz acreditar que a supersafra esperada para este ano seja <a href="https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2025-03/haddad-preve-queda-da-inflacao-em-2025-por-causa-de-super-safra">fator de alívio na inflação de alimentos</a>.</p>
<p>De acordo com estimativa anunciada nesta quinta-feira (13) pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), <a href="https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2025-03/conab-estima-safra-de-graos-acima-de-328-milhoes-de-toneladas">a safra de grãos 2024/25 será de 328,3 milhões de toneladas</a>, expansão de 10,3% ante a safra 2023/24.</p>
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<br />Fonte: Agência Brasil<a href="https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2025-03/clima-e-foco-em-exportacao-explicam-alta-de-alimentos-no-longo-prazo"Agência Brasil</a></p>