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<p>Uma plateia majoritariamente negra ocupou o teatro do <a href="https://agenciabrasil.ebc.com.br/tags/bndes">Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)</a>, no centro do Rio de Janeiro, nesta sexta-feira (21), para a cerimônia de anúncio do <strong>concurso que vai selecionar arquitetos e urbanistas negros para criar uma espécie de museu a céu aberto na região da Pequena África</strong>, berço da presença africana no Brasil. <img src="https://agenciabrasil.ebc.com.br/ebc.png?id=1635562&;o=node" style="width:1px; height:1px; display:inline;"/><img src="https://agenciabrasil.ebc.com.br/ebc.gif?id=1635562&;o=node" style="width:1px; height:1px; display:inline;"/></p>
<p>Uma apresentação do grupo cultural afoxé Filhos de Gandhy marcou o lançamento da concorrência pública, que é <strong>voltada exclusivamente para profissionais negros e escritórios que tenham negros à frente das equipes</strong>. <a href="https://concursobndespequenaafrica.com.br/">As inscrições podem ser feitas até 18 de abril</a>.</p>
<p>A entrega das propostas de intervenções urbanísticas e arquitetônicas têm prazo até 15 de maio. <strong>Todos os candidatos passarão por banca de heteroidentificação</strong> – procedimento em que terceiros analisam as características físicas de uma pessoa para identificar a cor ou etnia.</p>
<p>As propostas devem contribuir para a criação de um ambiente urbano integrado e funcional. Os arquitetos podem abranger ações culturais, estratégias de mobilidade urbana e até soluções de comunicação visual, mobiliário urbano e intervenções de pequeno porte. A ideia é que seja realçada a identidade local e consolidada a região como espaço de referência cultural e social.</p>
<p>Os projetos devem manter foco na valorização do patrimônio, no estímulo à economia criativa e na ampliação do acesso à cultura. Um exemplo de intervenção é a integração de marcos históricos e percursos significativos. <strong>A ideia é fazer com que visitantes que passeiem pela região se percebam em um museu de território</strong>.</p>
<p>O resultado será conhecido em junho e será decidido por um júri com cinco representantes:</p>
<ul>
<li>Prefeitura do Rio de Janeiro</li>
<li>Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB)</li>
<li>Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan)</li>
<li>Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil</li>
<li><a href="https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2023-03/membros-do-comite-gestor-do-cais-do-valongo-tomaram-posse-nesta-quinta" target="_blank">Comitê Gestor do Sítio Arqueológico do Cais do Valongo</a> (reúne representantes da sociedade civil e de governos) </li>
</ul>
<p>Os três projetos selecionados receberão prêmios que somam R$ 300 mil.</p>
<p><strong>1º colocado: R$ 78 mil</strong></p>
<p><strong>2º colocado: R$ 39 mil</strong></p>
<p><strong>3º colocado: R$ 13 mil</strong></p>
<h2>Patrimônio e valorização</h2>
<p>O Sítio Arqueológico do Cais do Valongo, uma das principais atrações da Pequena África, <a href="https://agenciabrasil.ebc.com.br/cultura/noticia/2017-07/rio-de-janeiro-cais-do-valongo-e-reconhecido-patrimonio-cultural-da" target="_blank">é reconhecido como Patrimônio Mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco)</a>.</p>
<p>O título faz com que o governo brasileiro tenha compromissos para restauração, conservação e promoção do espaço, e o <a href="https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2024-08/bndes-assina-contrato-de-r-10-milhoes-para-projeto-na-pequena-africa" target="_blank">BNDES, banco público que apoia iniciativas de desenvolvimento econômico e social, se dispôs a participar dos esforços do governo brasileiro</a>.</p>
<h2>Data especial</h2>
<p>O lançamento do concurso acontece no <a href="https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2025-03/saiba-por-que-hoje-e-o-dia-pela-eliminacao-da-discriminacao-racial" target="_blank">Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial</a>, uma data criada pela Organização das Nações Unidas (ONU). Aqui no Brasil, o 21 de março é também o Dia Nacional das Tradições das Raízes de Matrizes Africanas e Nações do Candomblé.</p>
<p>A diretora de Pessoas do BNDES, Helena Tenório representou na cerimônia o presidente do banco, Aloizio Mercadante, que está hospitalizado para tratar uma pneumonia.</p>
<p>“Não é apenas um dia de reflexão, mas de chamamento à ação para fortalecer políticas públicas, preservar a memória da resistência negra e promover um futuro mais igualitário. É isso que todos estamos fazendo hoje aqui”, disse.</p>
<p><strong>A diretora detalhou que, para preparar o concurso, foi feita escuta de mais de 150 horas na região. Mais de 600 moradores foram entrevistados.</strong> “Todo esse material precisa ser levado em consideração pelos arquitetos e urbanistas”, afirmou.</p>
<p>Entre as percepções colhidas com os moradores, estão o sentimento de pertencimento e interesse de permanecer na região, o apoio ao turismo e a manutenção da tradição.</p>
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 <img src="https://imagens.ebc.com.br/sefcYemh0CPfY8mWuMg7FNwQDEA=/754x0/smart/https://agenciabrasil.ebc.com.br/sites/default/files/thumbnails/image/_dsc9021.jpg?itok=GrQUY3-u" alt="Rio de Janeiro (RJ) 11/01/2024 – Espaço cultural Casa da Tia Ciata. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil" title="Fernando Frazão/Agência Brasil"/><br />
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<p><h6 class="meta"> Espaço cultural Casa da Tia Ciata, na Pequena África. <strong>Fernando Frazão/Agência Brasil</strong><!--END copyright=367292--></h6>
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<h2>Pequena África</h2>
<p>A Pequena África já é considerada uma das regiões mais visitadas por turistas no Rio de Janeiro e concentra dezenas de quadras na região portuária, sendo um registro geográfico da chegada ao Brasil de africanos escravizados.</p>
<p>Um passeio pelas ruas da Pequena África se transforma em uma aula sobre a influência negra na construção das identidades carioca e brasileira. Na região, além de sítios arqueológicos, como o Cais do Valongo e o Cemitério dos Pretos Novos, ficam pontos marcantes do legado africano na cidade, como o Quilombo da Pedra do Sal, a Casa da Tia Ciata – matriarca do samba ─ e o Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira (Muhcab).</p>
<p>Um dos locais de maior importância é o Valongo. Historiadores apontam que cerca de 1 milhão de escravizados tenham desembarcado nas Américas pelo Cais do Valongo.</p>
<p>Entre 1772 a 1830, o Cemitério dos Pretos Novos era local de sepultamento dos escravizados que morriam após a entrada dos navios negreiros na Baía de Guanabara ou imediatamente depois do desembarque, antes mesmo de serem vendidos. Hoje, existe no local o Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos (IPN), que pesquisa e preserva esse patrimônio material e imaterial africano.</p>
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<div class="dnd-atom-rendered"><!-- scald=339199:cheio_8colunas --><br />
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<p><!--copyright=339199-->´Mapa do Projeto Viva Pequena África, elaborado pelo BNDES, mostra principais pontos da região. Foto: Arte/BNDES/Divulgação &#8211; <strong>Arte/BNDES/Divulgação</strong><!--END copyright=339199--></p>
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<h2>Reparação e democracia</h2>
<p>A ministra dos Direitos Humanos e da Cidadania, Macaé Evaristo, enfatizou a relação entre reparação da herança africana e democracia.</p>
<p>“Fazer reparação, reconhecer as violações de direitos humanos, trabalhar para que isso nunca mais se repita é fortalecer a nossa democracia”, disse ela.</p>
<p>Além da preservação e promoção da Pequena África, Evaristo incentivou iniciativas como o ensino da história do continente africano.</p>
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<p>“Trabalhar pela inclusão da história da África nos currículos escolares é fortalecer a nossa democracia, combater o racismo e compreender que tem uma construção de África que é global, onde quer que a gente esteja”, disse a ministra, que saudou a presença de representantes dos governos dos países africanos Angola e Cabo Verde, que estavam na plateia.</p>
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<h2>Retorno</h2>
<p>A ministra da Cultura, Margareth Menezes, classificou a iniciativa como uma “construção do retorno”.</p>
<p>“É a construção do retorno, do merecimento, de reconhecer, de valorizar, de render glórias também à memória dessas pessoas que vieram antes, que sangraram, morreram aqui nesse país”, discursou.</p>
<p>Ao falar de retorno, Margareth Menezes comentou que se emocionou durante uma missão oficial a Benin, país da África Ocidental, onde há um lugar chamado Porta do Não Retorno, lugar que servia de embarque para os escravizados que seguiam para as Américas.</p>
<p>“Eu tive uma emoção tão forte”, lembrou. “Os que saíram daqui [África] sobreviveram também, eu sou fruto disso”, relatou o que sentiu no continente africano.</p>
<p>A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, afirmou que foi dado mais um passo de “tanta luta que retrata a memória, a força, a resistência do nosso povo”.</p>
<p>Sem dar detalhes, ela adiantou que <strong>o governo lançará na próxima segunda-feira (24) a Agenda Nacional de Quilombos</strong>. “Quem sabe do quilombo é o quilombola, assim como quem sabe da favela é o favelado”.</p>
<h2>Ação afirmativa</h2>
<p>Estiveram também no lançamento os presidentes da Fundação Palmares, João Jorge Rodrigues dos Santos, e da Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Embratur), Marcelo Freixo, além de autoridades municipais e parlamentares.</p>
<p>Para o babalawô Ivanir dos Santos, a iniciativa de escolher arquitetos e urbanistas negros não pode ser vista como medida de exclusão.</p>
<p>“Não é exclusão, é valorização, com ação afirmativa, dessa capacidade profissional negra, que nem sempre é valorizada e aceita”, constatou.</p>
<p>“Às vezes, quem ganha são grandes escritórios e, então, contratam um negro para poder fazer. Dessa vez, não, é dirigido. Então, isso é uma valorização, inclusive ancestral, nossa”.</p>
<p>Ivanir, que também é conselheiro do Centro de Articulação de Populações Marginalizadas, ressaltou a importância de intervenções na Pequena África serem reproduzidas por profissionais afrodescendentes.</p>
<p>“Este olhar vai ser importante. Não basta ser um arquiteto, tem que ser um arquiteto que tenha um olhar do que representou aquele espaço”, disse.</p>
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<p>“Por ali, entrou não só a mão de obra, mas entrou também a cultura, a espiritualidade, a economia, as relações sociais que até hoje são muito presentes na sociedade brasileira como resistência”, completou Ivanir dos Santos.</p>
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<h2>Centro Cultural Rio-África</h2>
<p>Não é a primeira vez que uma iniciativa busca protagonismo de afrodescendentes em intervenções arquitetônicas e urbanísticas na Pequena África. Em julho de 2024, foi lançado um concurso promovido pela prefeitura do Rio de Janeiro e pelo departamento fluminense do Instituto dos Arquitetos do Brasil, para escolher um arquiteto negro responsável pelo futuro <a href="https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2024-07/concurso-vai-escolher-arquiteto-negro-para-projeto-na-pequena-africa">Centro Cultural Rio-África</a>.</p>
<p>O <a href="https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2024-10/projeto-paulista-vence-concurso-para-centro-cultura-rio-africa-no-rio">projeto vencedor</a> é assinado pelo arquiteto Marcus Vinicius Damon Martins de Souza Rodrigues, do Estúdio Modulo de Arquitetura e Urbanismo, de São Paulo.</p>
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<p><h6 class="meta">Centro Cultural Rio-África será construído na região <strong>Beth Santos/Divulgação</strong><!--END copyright=403559--></h6>
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<br />Fonte: Agência Brasil<a href="https://agenciabrasil.ebc.com.br/cultura/noticia/2025-03/bndes-apoiara-ideias-de-arquitetos-negros-para-pequena-africa-no-rio"Agência Brasil</a></p>