Juros futuros vão às máximas com leilão recorde do Tesouro | Finanças


Os juros futuros disparam na sessão desta quinta-feira, com os investidores se ajustando à comunicação mais conservadora do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central em sua decisão de juros da véspera. A indicação de que o ciclo de aumento da taxa Selic não terminou e outros pontos do comunicado foram interpretados como sinalizações mais duras que vão de encontro à perspectiva por uma comunicação mais suave do colegiado, que vinha ganhando força recentemente.

Se a postura da autoridade monetária já era suficiente para pressionar as taxas, o leilão grande de Notas do Tesouro Nacional – série F (NTN-F) ampliou o movimento observado na curva a termo no fim da manhã, mesmo diante da forte demanda do mercado, que absorveu toda a oferta recorde de 10 milhões de títulos.

Por volta de 13h20, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento de janeiro de 2026 exibia alta de 14,715%, do ajuste anterior, para 14,835%; a do DI de janeiro de 2027 saltava de 14,40% a 14,595%; a do DI de janeiro de 2029 aumentava de 14,125% para 14,315%; e a do DI de janeiro anotava avanço de 14,295% para 14,49%.

O dia começou com maior pressão sobre os vértices curtos da curva a termo, à medida que o mercado precificava um ciclo de alta de juros mais extenso após a decisão de juros de ontem do Copom. O colegiado ratificou o seu “forward guidance” ao subir a Selic em 1 ponto percentual, para 14,25%, e surpreendeu parte do mercado ao indicar que fará outra alta em maio, ainda que de menor magnitude. Além disso, o comunicado manteve o balanço de riscos assimétrico (de alta) para a inflação, ao contrário do que alguns agentes esperavam, em meio à desaceleração da atividade econômica no fim de 2024 e começo de 2025.

Para o Morgan Stanley, a postura do Copom teve um “viés ligeiramente conservador”, justamente por conta da manutenção do balanço de riscos assimétrico, além do ajuste tímido da projeção de inflação ao fim do horizonte relevante do BC, de 4% para 3,9%. Ainda assim, o banco americano vê caminho livre para que o ciclo de alta da Selic se encerra já na próxima reunião, e por isso passou a projetar uma Selic de 14,75% no fim deste ano, contra 15,75% anteriormente.

“O real se fortaleceu desde dezembro e os dados de atividade econômica têm surpreendido (ligeiramente) para o lado negativo. Além disso, os preços de mercado parecem estar dando ao BC a oportunidade de parar o ciclo de alta um pouco mais cedo”, diz o relatório assinado pelos economistas Ana Madeira e Thiago Machado e pela estrategista-chefe para América Latina do Morgan Stanley, Ioana Zamfir.

Diante da perspectiva de um aperto monetário menos intenso, ao mesmo tempo em que os ruídos sobre a política fiscal estão mais contidos, o Morgan Stanley decidiu fechar a posição que ganhava com a inclinação da curva de juros futuros (contratos de DI de janeiro de 2027 contra DI de janeiro de 2031). Além disso, o banco recomenda a posição aplicada (que ganha com a queda das taxas) em contratos de DI de janeiro de 2029, com alvo de 13,25%, “a fim de posicionar-se para uma desaceleração contínua do crescimento no Brasil, em meio a um ruído fiscal contido no curto prazo e um cenário de taxas globais favoráveis”.

Passada a reação ao Copom, a pressão acentuada que se concentrava nas taxas de curto prazo se espalhou para os vértices longos da curva a termo com a oferta de 10 milhões de NTN-F (além de 20 milhões de LTN) no leilão de títulos prefixados do Tesouro Nacional hoje. De acordo com levantamento da Necton Investimentos com base em série histórica iniciada em dezembro de 2003, essa é a maior oferta de NTN-F tanto em quantidade emitida quanto em volume financeiro. Ainda segundo a corretora, o risco adicionado ao mercado (dv01) com a emissão foi o segundo maior de toda a série histórica iniciada em janeiro de 2010.

“Impressionante o tamanho do leilão de prefixados, com a oferta de 30 milhões (LTN + NTN-F) contra uma média de 20,7 milhões e o resultado (venda) sendo praticamente integral (96%), com viés fechado para todos os vértices”, destaca o estrategista da Necton, Fernando Ferez. “Tanto na NTN-F 2031 quanto na NTN-F 2035, a diferença entre as taxas máxima e média foi bem justa, para não dizer quase zero, e mais fechado do que marcávamos para o momento do leilão. Isso demonstra que houve demanda e quem levou o leilão foram poucas ou apenas uma instituição”, diz.

A forte emissão desta semana mantém a tendência recente de aumento das quantidades de títulos prefixados ofertados pelo Tesouro neste ano, em uma tentativa de melhorar o perfil da dívida pública em um momento de menor nervosismo dos mercados locais. Até o momento, a estratégia tem sido bem-sucedida.

Por ser um título que tem maior adesão de investidores estrangeiros, é possível que a forte demanda pelas NTN-F indique um maior fluxo de capital externo para o mercado local.



Fonte: G1

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